Domingo, 8 de Março de 2009

Mamma Roma é um filme neo-realista italiano do realizador Pier Paolo Pasolini com a actriz Ana Magnani. O realizador, confesso que conheço mal. Já Magnani foi uma feliz descoberta do ano passado (para mim, claro). Vi-a em filmes como Roma, Cidade Aberta, Bellissima e A Comédia e a Vida e deu para perceber que se tratava de uma grande actriz. Aqui, não é excepção e o apetite também ficou aguçado em relação a Pasolini. Gosto muito de cinema italiano antigo. É, de facto, uma marca exclusiva no mundo e quanto mais a conheço mais gosto dela.

Em Mamma Roma, o tema das dificuldades económicas no pós-guerra repete-se, bem como o foco sobre as transformações que operam nas relações humanas tanto boas como más (a generosidade e a solidariedade, por um lado, a exploração e o oportunismo, por outro). Aqui, também há uma separação consciente e crítica entre o campo e a cidade. A senhora Roma (personagem principal interpretada por Magnani) não se cansa de classificar o campo como terra de incultos, que, no entanto, cultivam a terra e subsistem e sustentam o resto do país desse modo, ao passo que a cidade representa, para ela, um futuro melhor, se não para si, que é obrigada a prostituir-se para ganhar o tal futuro, pelo menos para o filho.

É nesta relação filial que o filme se baseia proporcionando uma visão romântica do papel de mãe que "até se crucificava pelo bem do filho" e do pobre rapaz frágil e sozinho que "toda a vida procurou alguém que o orientasse". Mas o que mais me agradou foram os geniais diálogos da Mamma Roma indo embora da rua à noite trocando de interlocutores à margem (aqui a palavra tem duplo sentido porque a cena afasta-se do leitmotiv do filme e vai para o mundo marginalizado da prostituição).

Num deles, a mãe cansada de ser magnânima sem retorno apresenta uma franca teoria da hereditariedade da pobreza e da delinquência com base na sua própria experiência. O primeiro marido foi preso no dia do casamento porque o pai era ladrão e a mãe um estafermo, e os pais da mãe e os pais do pai também já o eram e, assim, o modo de vida era fatal e não havia volta a dar-lhe.

Como no melhor do neo-realismo italiano, vemos em cerca de uma hora e meia de filme o desenrolar de uma esperança que teima em viver e animar os miseráveis até acabar por morrer e levar toda a vida com ela. De um modo filmado e interpretado directo. Com a nova Roma, a da reconstrução, em fundo.



publicado por garçon às 21:44 | link do post | comentar | favorito

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