Terça-feira, 28.04.09
No outro dia, no Baile de Máscaras da Antena2 (17h-19h), ouvi uma antiga locutora dessa mesma estação (desta feita entrevistada pela actual locutora Ana Ferreira) dizer que é fácil gostar da música clássica porque ela estimula a imaginação, leva à criação de cenários e situações vividas na mente de quem a ouve.
Pois bem, Sra. Dona Maria Júlia Guerra, dou-lhe toda a razão porque eu, que só recentemente fui "chamado" para a música clássica, já passei por isso de forma muito intensa duas vezes. E nestas duas vezes, foi durante apresentações ao vivo, o que me leva a crer que esta circunstância aumenta a probabilidade de "viajar".
É certo que eu sou muito dado a fazer filmes. Não é brincadeira. Realizo mesmo cenas avulsas na minha cabeça quando estou em casa, a trabalhar, no trânsito... Estou sempre atrás de uma câmara invisível filmando pessoas e lugares para lá da realidade tangível.
Ora, na primeira vez que isso me aconteceu com a música, eu já tinha mais ou menos uma ideia de enredo para um filme (a sério) que pretendia escrever. No auditório pequeno da Fundação Calouste Gulbenkian, a ideia expandiu-se nitidamente enquanto observava o tornozelo da pianista em serviço.
Hoje, no foyer do Teatro Nacional de São Carlos, ao mesmo tempo que ouvi Mozart e Schumann, uma catadupa de ideias novas quase me fez pular de entusiasmo como era grande a vontade de sair dali e apontar logo num papel o que acabara de imaginar. Aguentei até ao fim (quem é que se atreve a sair durante o recital?) e, mal entrei no meu carro, escrevi, escrevi e escrevi sobre todo o programa do Ciclo de Música de Câmara para Ensembles.
O que é que eu escrevi? Cenas...
Sábado, 27.12.08
Sexta-feira, 22.02.08
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5169892544720036034" />Lisboa Invisível é uma peça de teatro co-produzida pelo Teatro Meridional e pelo Teatro Municipal de São Luiz, apresentada neste último e integrada no ciclo Outras Lisboas no âmbito do Ano Europeu do Diálogo Intercultural.
A peça, que estreou no passado dia 14 de Fevereiro inaugurando o ciclo, versa sobre os Africanos e é composta por actores negros ou mestiços. Não tem uma história de princípio, meio e fim, antes ilustra passagens na vida de uma família (uma grande família) que está reunida na vizinhança ou está longe noutro continente (a voz presente). Há momentos de alegria, de espera e desespero (na fila do SEF), de dor, de violência, competitividade, repreensão e carinho. E há um sentimento patriótico português alimentado por, adivinha-se, campeonatos internacionais de futebol. É aquilo que não se vê do lado de fora. Só quem tem o privilégio de conviver com estas pessoas no dia-a-dia é que sabe o que se passa entre elas e dentro delas.
Esta é uma boa oportunidade para os outros, os que ainda não se integraram na comunidade intercultural, para perceberem o que existe em Lisboa. Na realidade, o que nunca se viu é como se não tivesse existido até esse contacto que nos põe em confronto com o mundo à nossa volta.
Para mim, o mais interessante na peça foi a montagem de um cenário genialmente simples, a partir de andaimes da construção civil transformados ora em habitação, ora em cabeleireiro ou em discoteca afro e, mais para o final, num "prédio" de dois andares equipado com vários objectos que distinguem um lar. Além disso, para quem gosta, os ritmos africanos ouvem-se ao longo de boa parte da peça, com destaque para o kizomba que se faz acompanhar da dança.
Por outro lado, algumas diferenças linguísticas ou uma má colocação da voz por parte de alguns dos actores baixaram um pouco o nível de qualidade a uma peça que, já de si, tem pouco de apelativa apesar do tema interessante onde há muito a explorar.