id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125788573032529282" />A primeira pessoa a elogiar este blog fez-me lembrar, no decorrer da conversa, de uma review que escrevi em 2003 para o sítio BBC Collective (uma comunidade em que todos podiam participar com críticas de cinema, livros, discos ou o que quisessem, bastando para isso estarem registados). Todas as semanas era escolhido um texto, considerado o melhor, para ter um link directo na homepage da comunidade durante uma semana, além de ganhar um prémio também relacionado com os conteúdos. Ora, eu tinha acabado de ver o filme "Dirty Pretty Things" (em português "Estranhos de Passagem" perdendo toda a carga semântica e beleza do título original) e foi daqueles filmes tão sensíveis e sublimes que me dão logo vontade de escrever as minhas reflexões a propósito dos mesmos, já que não consigo parar de pensar neles. Assim fiz, aproveitando a descoberta do sítio referido com o factor aliciante de o prémio ser o novo CD dos Lamb na altura. Eu escrevi porque me apeteceu. A verdade é que o meu texto foi mesmo o escolhido! Drugui, um dos meus alteregos que agora está adormecido, não coube em si de contente. Nem fez diferença a impossibilidade, relatada pela equipa da BBC Collective, de ser enviado o prémio para fora de Inglaterra.
Segue o texto da minha "consagração" em terras de Sua Majestade:
dirty pretty things by: drugui Monday 03 November 2003id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125788323924426098" /> once again stephen frears shows dirty pretty cinema to our eyes. after liam's individual discover of the hard side of life here comes the collective struggle to get away from it. This time the characters are those that you don't see however they drive you daily in taxis, they clean what you mess up around and they satisfy your sexual needs. why? Because they don't exist, they don't have nationality nor name. Just a photo, a body. they are illegal. immigrants in london are the subject of this sad impossible love story between a turkish girl and a nigerian man. both came to the thames big city searching for protection. but instead they are still persecuted by authorities or mean employers also foreigners! as Isabella/Senay (the fabulous Audrey Tautou - more known by name Amélie) confirms at the end unknown people always keep in hiding. unknown like certain guests in the baltic hotel where a kidney can be exchanged by a passport. the film ends at the same symbolic place it began - an airport. It's the sign of a change sometimes so big that it represents the dream of a new life. even if no relative waits for you on arrivals there's always the big chance to find someone - such as the first character in this film (Chiwetel Ejiofor) - ready to drive the neglected by the system.
..."Le Huitième Jour", de Jaco van Dormael. Quando vi este filme, há muitos anos atrás na televisão, estava muito vulnerável e, sozinho na sala, chorei baba e ranho. Ambos os filmes demonstram que as pessoas com Síndrome de Down são seres excepcionalmente bonitos e com muito para ensinar aos outros sobre a alegria de viver.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125281268675394850" />"A Outra Margem", filme de Luís Filipe Rocha, é 'niiiito, como diria um dos protagonistas que é um adolescente com Síndrome de Down. Realmente, vi o filme e achei-o muito bonito, muito bem realizado e muito bem narrado. A história debruça-se mais sobre dois personagens à margem da sociedade "normal". Ricardo é um travesti e o sobrinho Vasco um mongolóide, ambos com interpretações magníficas, das quais não destoam as dos restantes personagens que, no fundo, sofrem do mesmo mal, lembrando que não há só uma mas duas margens. O acto de marginalizar tem dois sentidos e reflecte-se em quem o pratica. "A Outra Margem" é também um filme sobre Luísa, a noiva abandonada no altar incapaz de ultrapassar essa mágoa; sobre Maria, a mãe solteira que julgou ter um filho que ia depender de si para sempre mas, por ironia do destino, ela é que ficou dependente dele; sobre os irmãos separados cuja confiança um no outro jamais será abalada; sobre os pais que não perdoam a fuga dos filhos para a capital; sobre os filhos que acabam por ser "todas muito trágicas e um bocadinho mórbidas". id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125283794116164946" /> "A Outra Margem" fala de querer morrer, de querer viver e ainda da vontade de matar e mostra como todos os impulsos estão presentes na gente à espera do momento de tensão ou de calma para sobressaírem. Por isso, este filme é um filme cheio de emoções (realçadas por variações sobre uma melodia bem adequadas a cada situação) e de esperança - encarnada no Vasco que afinal parece ser a pessoa mais normal e feliz deste mundo. Porque será que nunca se ouviu dizer que uma pessoa com Síndrome de Down se matou ou matou alguém? Só eles sabem o segredo de viver sem angústia e com um amor tão honesto como intuitivo. Também há um personagem espacial com um papel muito forte em "A Outra Margem", desde logo sugerido neste título: o rio, seja ele o rio Tejo ou o rio Tâmega ou qualquer outro rio real ou imaginário colado às vidas narradas, separando-as, juntando-as, assistindo às suas aventuras e infortúnios, amores e desgostos, amizades e contemplações. Está presente, mesmo quando não está, pressentindo-se do outro lado da janela fechada ou do outro lado da casa. id="BLOGGER_PHOTO_ID_5125283948734987618" /> De resto, as vistas de Amarante e algumas pequenas aparições da planície alentejana conferem belos momentos visuais, como a última cena de ritual impecavelmente filmada e montada, com Ricardo a representar muito bem um acto de sublimação, a que Vasco assiste contemplativo como sempre dentro do carocha familiar. Um rito que acaba com o desencanto de Ricardo que o espectador viu no início desencadear um furacão sentimental de norte a sul de Portugal. Por tudo isto e mais, esta é uma história muito bem contada, com princípio, meio e fim, e merece ser vista mesmo pelos mais cépticos em relação ao cinema português.
...Estar a olhar para um bébé lindo enquanto dorme tranquilo no berço e ouvir a sua respiração encher o silêncio de um quarto iluminado apenas pela luz nocturna da rua.
Para o Alexandre, que me acalmou numa quinta-feira à noite.
Les Chansons d'Amour, um filme de Christophe Honoré com Louis Garrel, Ludivine Sagnier, Clotilde Hesme e Chiara Mastroianni, é dos filmes mais bonitos que eu já vi até hoje e não me pôs a chorar como normalmente me pôem os filmes mais bonitos que eu já vi. Pelo contrário, esta tragi-comédia musical com final feliz é leve e deixa-nos encantados pela música, mesmo quando as personagens cantam as suas mágoas. Não é alheio o facto de as canções serem muito fortes - da composição de Alex Beaupain em estreita colaboração com o realizador. As vozes dos actores e das actrizes não são as mais afinadas do mundo, mas quando interpretam as personagens cantando "Je n'aime que toi", "Les yeux au ciel" ou "As-tu déjà aimé?", isso pouco importa porque a profundidade da alma está lá, o que nos toca a todos. As canções de amor vão da dor à esperança. Assim acontece neste filme, que começa com a expressão da dúvida, passando pela perda repentina e irremediável e até chegar ao enamoramento de um personagem secundário que leva ao renascer do sentimento no protagonista. É o nosso retrato biográfico: algumas pessoas vão saindo da nossa vida, outras vão entrando e outras vão estando. Mas o mais importante é não fecharmos nunca os olhos à felicidade. O desfecho de Les Chansons d'Amour - simplesmente genial - é uma bela prova de amor, o climax das canções filmado em estilo teatral, que inspira a fantasia e lembra na realidade: "Ama-me menos... mas por mais tempo!"
Este é um bom exemplo de campanha de sensibilização para os adultos. E como os bons exemplos são para ser seguidos, espero que apareçam mais campanhas como esta porque há muitos adultos que se portam pior que as crianças.
Para começar este blog, nada melhor do que uma coisa da minha terra. Melhor dizendo, da nossa terra porque a terra é de todos nós, seja Portugal, EUA ou China. Em todo o lado se sente a mesma tristeza.