Qual não foi, hoje, o meu espanto quando me pediram €2.80 por um quadradozinho de massa folhada com espinafre e uma rodela de queijo de cabra no bar da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, depois de ter comprado um bilhete para uma das sessões no piso de baixo por €2,50???
Vou começar a alimentar-me de filmes antigos e ir ao bar só quando alguém fizer anos porque, assim, é impossível.
Mas valeu a pena ter-me nutrido antes de entrar na sala porque Madam Satan mereceu que eu estivesse com os sentidos activos. Será posta brevemente...
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5227810797747323442" /> Hoje, fui para a praia sem toalha. Só quando já estava no areal é que me lembrei que me esqueci desse pequeno pormenor. Eu já sabia que não a levava porque, na véspera, procurara por ela em casa e não a encontrara. Mas como esperava ter companhia, que não tive e não partilhou o poiso, não me preocupara. Agora estava fodido. Pensei primeiro que não precisava dela e era só deitar-me romanticamente na areia e deixar-me secar. Depois, sacudia-se. Não... Não ia aguentar o desconforto. Voltei para trás, irritado e suado, peguei novamente no carro e fui à praia do lado com esperança de achar um vendedor ambulante. Nada. Pensei, então, que a Sereia era praia para ter comércio. Enganei-me. Desta vez perguntei ao arrumador da praia. E assim, fui parar à Cabana do Pescador onde, de facto, vira antes toalhas penduradas prontas a estender. Mas, hoje, não. Completamente lixado, por ter que ir à Charneca da Caparica desencantar uma toalha de praia não sabia onde, entrei no carro e, ao olhar para o lugar do pendura, vi lá do que estava a precisar e resolveu o meu problema. O que é que eu fiz? Pus o carro à sombra e usei o pára-sol para me esticar na areia da praia. Foi uma solução de contingência um bocado idiota. Todavia, não pude deixar de me sentir um pouco orgulhoso pela ideia engenhosa que tive. No fim da tarde, enquanto ponderava deixar o pára-sol no caixote do lixo (vontade que já vinha da semana passada quando se rasgou na primeira utilização que lhe dei a seguir à compra na véspera), ouvi algo a cair mesmo ao lado da minhas pernas. Um pássaro qualquer que não vi cagou-lhe em cima. Foi decisivo. Se até a Natureza se estava a cagar para aquele pára-sol, não era eu que o ia guardar cheio de areia e sal. Teve uma vida curta mas de certeza que diferente da dos outros pára-sóis salvando este fantástico dia de praia.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5227402497667835346" /> Tenho um disco que quase nunca ouço no Inverno mas que, de repente, começo a trautear quando o Verão começa. Porquê? Porque é um disco de Verão. É O Sul do Projecto Camaleão Azul (a vocalista é a Viviane, mais conhecida pelos Entre Aspas, de quem gosto muito de ouvir cantar). Todo o disco é inspirado e dedicado ao Algarve estival com especial incidência no mar e no crepúsculo, nos pores-do-sol e nas noites cálidas, como se vê também pelas fotos incluídas (tiradas por pessoas do mesmo projecto). É um disco do qual gosto na íntegra, pois, sou capaz de ouvir cada canção acompanhando a letra que está sobreposta numa fotografia (cada letra numa imagem diferente) e sentir o Algarve a um passo de distância. É que está tudo - música, poema, canto e paisagem - tão bem relacionado e de forma tão bela e lírica que relembro as grandes férias que uma vez passei, quando tinha cerca de dez ou onze anos, no Farol de Alfanzina. Aí brinquei muito com os filhos gémeos do faroleiro (um rapaz e uma rapariga da minha idade), o Sol era mais querido e punha-se à direita sobre a falésia em vez de se pôr no mar em frente e as noites eram passadas a ouvir o canto da sereia que vinha do escuro lá de baixo, onde os pescadores, sentados no precipício, estendiam as suas redes na esperança de apanhar muito e bom polvo junto às rochas. Tudo com a luz giratória a cortar o horizonte negro deixando ver o mar e as barcas que, nos entretantos, eram pontinhos vermelhos apenas.
Se um barco foras que me conduzisse Pela tarde fora como um mar de outubro, No teu corpo teria porto e âncora em que medisse A paz que só em ti quero e descubro
E ao fim do dia quando as aves Abrissem em teus olhos as asas deslumbradas Contigo teceria os meus sonhos mais suaves E que lua e estrelas os velassem, sossegadas.
Não, não é sobre David Lynch e Francis Ford Coppola que venho falar. É sobre as respectivas filhas, Jennifer Lynch e Sofia Coppola. Isto porque acho injusto que a simplicidade e as referências paternas reveladas no mais recente filme lynchiano, Surveillance (Vigilância), sejam confundidas com mediocridade como os críticos querem fazer-nos crer. Eu vi o filme - o segundo realizado por Jennifer - e gostei dele. Tal como gostei do seu "primeiro fracasso", Boxing Helena, há 15 anos atrás. É verdade que não são obras-primas. Mas são muito interessantes. Talvez, se Surveillance não fosse tão colado ao universo do pai, que assina a produção executiva, conseguisse uma nota positiva desses fazedores de opinião, mas que mal tem pisar onde o pai que se admira pisou? Ela própria sabe que é avaliada não como uma cineasta qualquer mas, sim, como a filha do génio David Lynch e, como tal, esperam sempre mais. Mais mas diferente, senão não tem originalidade, perde o valor?
Por outro lado, temos Sofia Coppola, filha de outro grande cineasta que também seguiu a sétima arte. Neste caso, os filmes também não são de tirar o fôlego, porém, estão progressivamente a formar aquilo que falta nas películas de Jennifer para ser reconhecida no meio: a marca distintiva. Um artista plástico pode ser bom mas só é famoso e vale milhões quando se destaca dos outros porque é aí que reside a genialidade. Com os cineastas, passa-se exactamente a mesma coisa. Agora, deitar abaixo Surveillance só por causa disso não é correcto e não me venham com a treta da fraca bilheteira para se justificarem, pois, As Virgens Suicidas ou Marie Antoinette também estão longe de poderem ser considerados blockbusters e, no entanto, são muito bem defendidos nos jornais em vez de serem completamente destruídos.
id="BLOGGER_PHOTO_ID_5225587839221375362" /> Ultimamente tenho andado desligado embora tenha voltado a ter ligação à Internet. A minha vida mudou tantas vezes no primeiro semestre deste ano. Mudei de emprego, mudei de casa e troquei os transportes públicos por um carro comercial. De livreiro no Chiado passei a assistente administrativo em Carnaxide, de um quarto alugado nas Laranjeiras voltei para o meu quarto da Margem Sul e, em vez de acordar às 5h30m para apanhar quatro transportes diferentes até chegar ao trabalho, optei pela compra de uma viatura em segunda mão e por acordar uma hora mais tarde (dói na mesma). Apesar disso, creio que as mudanças não vão ficar por aqui e espero terminar o ano muito mais feliz do que quando comecei. A vida é mesmo assim, feita de altos e baixos, e é bom aproveitar um bate cu no chão para dar balanço à nova subida.