O Sol e o Céu são um só
tão só é o amor que os une
amor fingido no Oriente
sem sentido quando se sente
o fim no horizonte quente.
Tão breve se deleita
no vazio a chama
que o frio logo reclama
por tão frágil calor
que se passe uma receita
uma extensão do amor.
Possível não o é
que a Lua também ama
ao Céu ela se chama
mal esta desaparece
e assim o amor arrefece.
Pelos dois o Céu escorrega
corre, tropeça e cai.
Um é forte e protestante
o outro vai inconstante
ora cresce e desassossega
ora fica minguante
tal é a fome que perdura
assim é um amor sem cura.
Aos dois o Céu se entrega
dá tempos e espaços definidos
que amor pode ser
que tenha que ter
limites estabelecidos,
nem o dia infinito, nem as noites sem comer
para sempre ver.
No passado dia 8 de Janeiro, a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) suspendeu os corredores humanitários para a Faixa de Gaza depois de um ataque israelita que matou dois motoristas de um comboio identificado com o símbolo da organização junto à fronteira norte.
Num mundo com moral a sério, o que a ONU teria suspenso era a ofensiva cega que Israel está a cometer contra um povo em comparação muito mais desprotegido.
Nesse mesmo dia, tive oportunidade de me manifestar contra a barbárie de Israel sobre Gaza em Lisboa. Comigo estavam estimadamente umas boas centenas de pessoas em frente à Embaixada de Israel, que estava afastada da gente por um gradeamento atrás do qual se encontravam os polícias e um checkpoint muito bem montado. Quando um dos organizadores proclamou que ali éramos todos palestinianos da Faixa de Gaza, ocorreu-me que podíamos estar todos mortos porque o número de participantes estava próximo das centenas de vítimas em Gaza desde que os ataques começaram (pouco antes do final de 2008). Não faltaram os sapatos a voar por cima das cabeças para a porta da Embaixada.
Conheci esta canção de um grupo chamado PIL na banda sonora do filme A Valsa com Bashir e agora não me sai da cabeça (por causa do Youtube e do trailer do filme). É um excelente exemplo da arte musical realizada na década de 1980 cuja sonoridade instrumental e vocal, curiosamente, se pode encontrar em inúmeras bandas emergentes com toques revivalistas. Mas o melhor ainda, é o videoclip, uma clássica performance dentro de um carro a percorrer a cidade com uma sequência (interrompo para fazer suspense e indicar que vou dizer ao que é que eu acho mais piada nele) de efeitos especiais de imagem in/out dos que eu achava o máximo quando os via no novo VHS do vizinho mas que, no fundo, não serviam para nada de útil.
Vi A Valsa com Bashir, do israelita Ari Folman, na última Festa do Cinema Francês e gostei apesar de ter sido num dia de semana e eu estar um bocado cansado. Mesmo assim, a qualidade da animação deste filme é tão boa, juntamente com uma história de guerra diferente daquelas do holocausto nazi a que estamos mais que habituados, que desperta os sentidos para uma experiência num território completamente novo. Talvez não seja assim tão novo se considerarmos a obra-prima da iraniana Marjane Satrapi - Persepolis, uma longa de animação brilhante embora negra até à medula, abriu-me uma porta para o Médio Oriente que eu não conhecia tão bem. Uma zona quente de sentimentos felizes, memórias tristes e empatia humana. Estreado na passada quinta-feira, recomendo que o filme seja visto num dia bem descansado porque A Valsa com Bashir é em grande parte uma introspecção silenciosa dos intervenientes (realizador, interlocutores do realizador e espectadores) pontilhada apenas a espaços largos por sonoros bombardeamentos, tiroteios, matilhas raivosas e pop dos anos 1980. Vale a pena ver pelo documento histórico que representa, pela viagem ao interior de si próprio que proporciona e pelo excelente desenho que embeleza a narrativa no detalhe dos planos lentos e se aproxima da imagem real na cuidada reconstituição das cenas de acção.
Ella Fitzgerald queria ser dançarina antes de cantar. Quando era pequena, juntava-se na rua aos miúdos que faziam performances de forma a ser-lhes lançada alguma moeda pelos transeuntes de Yonkers (primeira cidade a Norte de Nova Iorque onde Ella cresceu). Ella imitava o artista que a fascinava na época cuja dança excêntrica se tornou muito popular sobretudo em Harlem nos anos 30. O nome dele é Snake Hips Tucker e era com o dinheiro que ganhava imitando-o que Ella pagava a entrada nas salas onde passavam os grandes espectáculos.
Foi ao longo de 36 anos a mais célebre activista anti-apartheid branca, quando eram raros os brancos que criticavam o regime segregacionista da África do Sul. Nesse período, Helen Suzman foi também, durante 13 anos, a única parlamentar a condenar abertamente o apartheid - como deputada do Partido Unido, mais tarde no Partido Progressista.
Muitas vezes, às suas intervenções no Parlamento respondiam-lhe com um "Volta para Moscovo" ou "Volta para Israel", numa referência às suas origens. Helen Suzman era filha de imigrantes judeus lituanos na África do Sul.
Foi duas vezes nomeada para o Nobel da Paz. Ontem, com 91 anos, morreu "na paz" da sua residência em Joanesburgo, disse a filha, citada pela agência de notícias sul-africana SAPA, que divulgou a notícia.
Várias vezes enfrentou o antigo primeiro-ministro Pieter W. Botha, que chegou a ameaçá-la dizendo que ela estaria a violar as leis do país. Suzman ter-lhe-á então respondido: "Não tenho medo de si."
in Público, 2 Janeiro 2009
Casa da Nobel da paz iraniana Ebadi atacada
Centena e meia de manifestantes atacou ontem a casa da prémio Nobel da paz iraniana Shirin Ebadi, três dias depois de o seu escritório de advocacia em Teerão ter sido alvo de buscas pelas autoridades e duas semanas depois de a sua organização Círculo de Defesa dos Direitos Humanos ter sido encerrada pelo Ministério do Interior.
"Juntaram-se à porta do edifício aos gritos, acusando-me de apoiar crimes cometidos pela América e Israel", contou Ebadi à AFP, precisando que os manifestantes dispersaram meia hora após a chegada da polícia ao local. Entretanto, relatou, já tinham arrancado o placard do seu escritório de advocacia - que se localiza no mesmo imóvel - e escrito slogans de similar teor nas paredes.
"Este ataque não tem nada a ver com a nossa posição sobre o que se passa em Gaza; há dois dias que o condenámos e expressámos o nosso apoio aos palestinianos", afirmou a Nobel da paz (2003), aludindo aos ataques israelitas que continuam na Faixa de Gaza.
in Público, 2 Janeiro 2009