Terça-feira, 31 de Março de 2009

Foi um dos primeiros grandes compositores de jazz, um exemplar e refinado cultor da forma, e também um dos seus raríssimos teóricos. Jelly Roll Morton (Gulfport, Louisiana 1885 ou 1890 - Los Angeles 1941) atribuía a si próprio a invenção do jazz de tal forma exagerada que a sua obra bastava para o comprovar.

Pianista eminente, dotado de estilo conciso e decidido derivado do ragtime, teve óptimas qualidades de dirigente de orquestra e de compositor. Fez numerosas digressões pioneiras através dos Estados Unidos, contribuindo de modo determinante para a difusão das primeiras expressões do jazz.

Em 1926, fundou o seu melhor conjunto, os Red Hot Peppers, com os quais efectuou a maior parte das próprias gravações fonográficas. Quatro anos depois, reduzido quase à miséria, cessou toda a actividade.

 

É exactamente de 1926 este Black Bottom Stomp que se pode ouvir a seguir no original (disco de 78 rpm).

 

 

 

Posta mandada com base no livro Os Caminhos do Jazz, Guido Boffi, Edições 70 e nos sítios www.allmusic.com e www.youtube.com


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Sábado, 28 de Março de 2009

Para demonstrar que Buddy Bolden foi realmente importante na origem do jazz, Duke Ellington e Billy Strayhorn compuseram este tema em sua homenagem. A interpretação é de Nina Simone, que eleva a canção ao céu como sempre.

 

Buddy Bolden tune up
Blowing horn was his game
Born with a silver trumpet in his mouth
He played the horn before he talked
Born on the after beat
He patted his foot before walked

When Buddy Bolden tuned up you could hear him clean
Clean across the river clean across the river
He woke up the working people and kept the easy living
Call on Buddy Bolden call him Buddy Bolden


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Sexta-feira, 27 de Março de 2009

Na segunda-feira passada, fui matar saudades da Cinemateca e de ver um bom filme a preto e branco, e o que escolhi para ver foi The Black Cat (Magia Negra, em português) de um realizador de que nunca tinha ouvido falar: Edgar G. Ulmer. O que me levou a ver este filme foi o elenco composto por dois actores principais famosos no género de terror. Como já souberam pelo título desta posta que estou a mandar, são eles Boris Karloff e Bela Lugosi.

Com efeito, os seus desempenhos fazem o filme praticamente todo, sem tirar mérito aos restantes créditos. Entre os dois, é sem dúvida Karloff o que mais bem se destaca, em parte porque a sua personagem é muito mais interessante, sendo o anfitrião numa casa que é "uma obra-prima de construção sobre uma obra-prima de destruição".

Além disso, trata-se de uma realização muito boa, com planos muito bonitos, cenários e colocações muito bem orquestrados, enfim, como disse atrás, tudo elaborado em conjunto de forma a criar uma peça inteira de arte cinematográfica.

Na folha que a Cinemateca distribui com a projecção, lê-se: "The Black Cat pode considerar-se como o primeiro filme de «horror psicológico»". Realmente, se ao longo do filme há vários momentos que calmamente, um a um, aumentam o ambiente de medo, este atinge o seu máximo já perto do final na cena de tortura. Eu, que já pensava que ia sair da sala sem ter tido qualquer reacção, dei por mim a encolher-me na cadeira e a pôr a garrafa de água à frente do nariz.

Muito bela também, é a primeira cena de Karloff, a levantar-se da cama (de onde apenas se via, do "nosso lado", uma mulher de longos cabelos louros deitada). Levanta-se direito e lentamente como saem os mortos de um caixão e o seu perfil negro é recortado pelo fundo claro das suas paredes modernas.

O video que se segue não mostra uma cena como eu costumo e prefiro fazer por dois motivos. Primeiro, não há quase registos nenhuns da obra e o que há não me agradou suficientemente. Segundo, apesar de as imagens servirem uma canção fora do contexto com uma remistura apropriada, esta está muito bem feita e revela parte do que de melhor se pode ver em The Black Cat.



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Sexta-feira, 20 de Março de 2009

Charles "Buddy" Bolden (Nova Orleães, Louisiana 1877 – 1931) foi um cornetista afro-americano e é considerado como uma figura importante no desenvolvimento de um estilo de música em Nova Orleães que mais tarde se tornou conhecido como jazz. Também era chamado King Bolden e a sua banda esteve em alta desde cerca de 1900 até 1907, quando sofreu um episódio de psicose alcoólica aguda, aos 30 anos de idade. Depois do diagnóstico de esquizofrenia, foi internado num sanatório, onde passou o resto da sua vida. Que se saiba, não deixou nenhuma gravação, mas era conhecido pelo seu som muito alto e a constante improvisação.

Um dos números mais famosos de Bolden é uma canção chamada "Funky Butt" (mais tarde conhecida como "Buddy Bolden's Blues", nomeadamente pela recriação de Jelly Roll Morton) que representa uma das primeiras referências ao conceito de "funk" na música popular, agora um subgénero musical em si mesmo.

"Funky Butt" era, como disse uma vez Danny Barker, uma referência ao odor de um auditório cheio de pessoas transpiradas "dançando muito juntas e a roçar os corpos." Outros músicos da geração de Bolden explicaram que o famoso tema na verdade foi criado como uma alusão à flatulência.

 

I thought I heard Buddy Bolden say

Stinky butt funky butt, take it away

I thought I heard him say 

 

I thought I heard Buddy Bolden shout

Open up the window, let that bad air out

I thought I heard him shout

 

Tornou-se tão conhecida como uma canção grosseira que até assobiar a melodia na rua era considerado uma ofensa.

 

in Wikipedia


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Sábado, 14 de Março de 2009

Se eu deixasse uma criança morrer esquecida dentro de um carro durante três horas ou se eu fosse directa ou indirectamente culpado da morte de um bebé, não sei como viveria depois.

Tenho sobrinhos pequenos, o mais novo tem cinco meses e ainda não sonhei com a morte dele. Mas é muito provável que isso aconteça como acontece com as pessoas de quem gosto mais. São pequenos pesadelos que tenho em determinada fase de uma relação com alguém muito especial. A minha sobrinha mais velha tem seis anos e a fase dos sonhos maus com ela já passou. Deve ser porque já é suficientemente grande para se defender da irresponsabilidade dos adultos.

Os maus tratos e até a morte de bébés por causas perfeitamente evitáveis relembram que cuidar de crianças é um trabalho da maior importância e exige um zelo e uma vigilância permanentes. Como é que alguém se pode esquecer de um ser humano que é totalmente dependente dos outros?

A morte dos meus sobrinhos é um dos meus maiores medos seja de que maneira for. Diz-se que sonhar com a morte afasta-a. Era bom que assim fosse mas não sou supersticioso. Pelo contrário, a efemeridade da vida, da felicidade, dos sorrisos e do próprio tempo levam-me conscientemente a querer estar mais vezes com as pessoas que amo. Isso tem moldado a minha forma de pensar e as minhas decisões ultimamente.

 

A propósito de traumas com a morte de uma criança e das vidas para sempre destroçadas dentro de uma família que é como um puzzle irremediavelmente incompleto, o filme O Casamento de Rachel faz um retrato. Além de ser um excelente trabalho de realização de Jonathan Demme, conta como pode ser a vida depois da morte do ponto de vista de dentro da família. Claro que cada família é diferente e daria um filme diferente na mesma situação e, por isso, dou os parabéns à argumentista Jenny Lumet por ter chegado ao possível denominador comum destas pessoas frágeis, que se deixam partir facilmente a si mesmas de tempos a tempos e voltam a recompor-se por cima dos cacos espalhados pela casa. É uma resistência sem limites aquela que leva a gente a continuar.



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Quarta-feira, 11 de Março de 2009

O pianista e compositor negro Scott Joplin (Texarkana, Texas 1868 - Nova Iorque 1917) foi o grande mestre do ragtime (ver em baixo). Activo em Saint Louis e Sedalia, berços deste novo estilo, contribuiu de modo decisivo para o definir. O seu Maple Leaf Rag (1897, editado em 1899) foi um êxito clamoroso e deu-lhe fama e prosperidade. Mas, em vez de se repetir na fórmula de efeito seguro, Joplin concebeu a ideia ambiciosa de uma música nacional negra. Para ele, o ragtime era uma arte, expressão de uma subcultura americana. Escreveu rags sempre mais complexos, profundos e de difícil execução, marchas, valsas e uma habanera; partituras esplêndidas, mas impopulares. Escreveu, ademais, duas óperas: A Guest of Honor (1903, perdida) e Treemonisha (1911), uma fábula alegórica sobre a libertação dos negros. Considerada demasiado ofensiva para ser representada, Treemonisha é hoje reconhecida uma obra-prima do teatro musical americano. Scott Joplin enlouqueceu sem a conseguir ver em cena, o que aconteceu apenas em 1972.

 

O ragtime é uma música dançável executada muitas vezes ao piano, mas também com banjo, em que a mão esquerda mantém um rígido ritmo de marcha, enquanto a direita toca melodias sincopadas. Surgiu cerca de 1895, em Saint Louis, da fusão entre música negra culta e popular. Em 1910-20, músicos negros que trabalhavam em Nova Iorque e Nova Orleães introduziram no ragtime a improvisação transformando-o em jazz.

 

Texto escrito com base no livro Os Caminhos do Jazz, Guido Boffi, Edições 70


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Domingo, 8 de Março de 2009

Mamma Roma é um filme neo-realista italiano do realizador Pier Paolo Pasolini com a actriz Ana Magnani. O realizador, confesso que conheço mal. Já Magnani foi uma feliz descoberta do ano passado (para mim, claro). Vi-a em filmes como Roma, Cidade Aberta, Bellissima e A Comédia e a Vida e deu para perceber que se tratava de uma grande actriz. Aqui, não é excepção e o apetite também ficou aguçado em relação a Pasolini. Gosto muito de cinema italiano antigo. É, de facto, uma marca exclusiva no mundo e quanto mais a conheço mais gosto dela.

Em Mamma Roma, o tema das dificuldades económicas no pós-guerra repete-se, bem como o foco sobre as transformações que operam nas relações humanas tanto boas como más (a generosidade e a solidariedade, por um lado, a exploração e o oportunismo, por outro). Aqui, também há uma separação consciente e crítica entre o campo e a cidade. A senhora Roma (personagem principal interpretada por Magnani) não se cansa de classificar o campo como terra de incultos, que, no entanto, cultivam a terra e subsistem e sustentam o resto do país desse modo, ao passo que a cidade representa, para ela, um futuro melhor, se não para si, que é obrigada a prostituir-se para ganhar o tal futuro, pelo menos para o filho.

É nesta relação filial que o filme se baseia proporcionando uma visão romântica do papel de mãe que "até se crucificava pelo bem do filho" e do pobre rapaz frágil e sozinho que "toda a vida procurou alguém que o orientasse". Mas o que mais me agradou foram os geniais diálogos da Mamma Roma indo embora da rua à noite trocando de interlocutores à margem (aqui a palavra tem duplo sentido porque a cena afasta-se do leitmotiv do filme e vai para o mundo marginalizado da prostituição).

Num deles, a mãe cansada de ser magnânima sem retorno apresenta uma franca teoria da hereditariedade da pobreza e da delinquência com base na sua própria experiência. O primeiro marido foi preso no dia do casamento porque o pai era ladrão e a mãe um estafermo, e os pais da mãe e os pais do pai também já o eram e, assim, o modo de vida era fatal e não havia volta a dar-lhe.

Como no melhor do neo-realismo italiano, vemos em cerca de uma hora e meia de filme o desenrolar de uma esperança que teima em viver e animar os miseráveis até acabar por morrer e levar toda a vida com ela. De um modo filmado e interpretado directo. Com a nova Roma, a da reconstrução, em fundo.



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