
Hoje, fui ver o filme A Bússola Dourada, realizado por Chris Weitz. É um filme engraçado, muito ao estilo Harry Potter (pode dizer-se que a personagem Potter está esgotada mas o que é certo é que o estilo veio para durar mais uns tempos) mas menos infantil e mais negro (obrigado,
mr fights , por me ajudares a descrever este filme).
Há dois aspectos curiosos em relação a esta fábula que, para mim, não são inocentes e merecem leituras mais adultas - até julgo que é um bom e um mau exemplo de como despertar consciências nos adolescentes alheios ao mundo:
1º o bom exemplo: Acho interessante a forma como se aborda uma questão que é de política - o totalitarismo - orientada para um público juvenil. É uma excelente forma de pôr os mais novos em contacto com as ideias e os mecanismos desse tipo de regime e fazê-los pensar sobre isso. Durante o filme, o livre arbítrio (palavra cara que levará alguns a recorrer ao dicionário se forem curiosos) é defendido várias vezes e a liberdade de pensamento e a diversidade de acção que lhe são subjacentes são argumentos contra a imposição de um regime que uniformiza tudo e todos com recurso à violência (perseguindo os "hereges" que espalham a palavra sobre as outras possibilidades e manipulando as crianças que ainda estão a desenvolver a mente - no filme, a instabilidade dos seus demónios=almas faz a metáfora). Tudo isto, através de um conto mirabolante e fantástico com ursos falantes e feiticeiras boas onde só um escritor premiado (a película baseia-se na obra de Philip Pullman) conseguiria meter harmoniosamente uma "lição de História". Lyra (Dakota Blue Richards), a menina protagonista a quem ninguém manda fazer nada que não queira e que em cada instante decide por si própria o passo seguinte, é a melhor personificação do livre arbítrio que o realizador oferece ao seu público jovem. Convém não esquecer que tudo nos parece bonito porque estamos do lado dos bons e sentimos isso perfeitamente, não fôssemos nós ocidentais. E com isto, vem o 2º ponto.
2º o mau exemplo: Será impressão minha ou os maus da fita de A Bússola Dourada - tirando os altos cargos do Magisterium, a organização política totalitária - são representados ora por guerrilheiros de faces asiáticas ora por soldados de aspecto russo? Não me atrevo a acreditar que haja uma intencionalidade nisso se for mesmo como eu reparei. Alguém mais percebeu isso? Comentem à vontade.