No outro dia, no Baile de Máscaras da Antena2 (17h-19h), ouvi uma antiga locutora dessa mesma estação (desta feita entrevistada pela actual locutora Ana Ferreira) dizer que é fácil gostar da música clássica porque ela estimula a imaginação, leva à criação de cenários e situações vividas na mente de quem a ouve.
Pois bem, Sra. Dona Maria Júlia Guerra, dou-lhe toda a razão porque eu, que só recentemente fui "chamado" para a música clássica, já passei por isso de forma muito intensa duas vezes. E nestas duas vezes, foi durante apresentações ao vivo, o que me leva a crer que esta circunstância aumenta a probabilidade de "viajar".
É certo que eu sou muito dado a fazer filmes. Não é brincadeira. Realizo mesmo cenas avulsas na minha cabeça quando estou em casa, a trabalhar, no trânsito... Estou sempre atrás de uma câmara invisível filmando pessoas e lugares para lá da realidade tangível.
Ora, na primeira vez que isso me aconteceu com a música, eu já tinha mais ou menos uma ideia de enredo para um filme (a sério) que pretendia escrever. No auditório pequeno da Fundação Calouste Gulbenkian, a ideia expandiu-se nitidamente enquanto observava o tornozelo da pianista em serviço.
Hoje, no foyer do Teatro Nacional de São Carlos, ao mesmo tempo que ouvi Mozart e Schumann, uma catadupa de ideias novas quase me fez pular de entusiasmo como era grande a vontade de sair dali e apontar logo num papel o que acabara de imaginar. Aguentei até ao fim (quem é que se atreve a sair durante o recital?) e, mal entrei no meu carro, escrevi, escrevi e escrevi sobre todo o programa do Ciclo de Música de Câmara para Ensembles.
O que é que eu escrevi? Cenas...