"Por isso, se te disser que sinto frio,
que a água da chaleira
evaporou,
mas que de vez em quando sempre,
às vezes,
o embaraço do vapor em que ela se dissolve
deixa uma gota mais aflita
no desamparo
em que me acolhes,
lembra-te da comoção
que me embarga a voz, quando, após uma longa
ausência, apareces, para e de cada vez
que tal acontece, te ires
definitivamente
embora."
Não Me Morras, Eduarda Chiote, &etc, 2004
Com uma fotografia de Garçon, Novembro/2008
O Sol e o Céu são um só
tão só é o amor que os une
amor fingido no Oriente
sem sentido quando se sente
o fim no horizonte quente.
Tão breve se deleita
no vazio a chama
que o frio logo reclama
por tão frágil calor
que se passe uma receita
uma extensão do amor.
Possível não o é
que a Lua também ama
ao Céu ela se chama
mal esta desaparece
e assim o amor arrefece.
Pelos dois o Céu escorrega
corre, tropeça e cai.
Um é forte e protestante
o outro vai inconstante
ora cresce e desassossega
ora fica minguante
tal é a fome que perdura
assim é um amor sem cura.
Aos dois o Céu se entrega
dá tempos e espaços definidos
que amor pode ser
que tenha que ter
limites estabelecidos,
nem o dia infinito, nem as noites sem comer
para sempre ver.
The day will get off to a cloudy start.
It will be quite chilly
But as the day progresses
The sun will come out
And the afternoon will be dry and warm.
In the evening the moon will shine
And be quite bright.
There will be, it has to be said,
A brisk wind
But it will die out by midnight.
Nothing further will happen.
This is the last forecast.
(Este poema foi originalmente incluído em War, uma selecção de poesia escrita por Harold Pinter em resposta à invasão do Iraque)